Maria de Lourdes Chantre, autora do primeiro livro sobre a Cozinha de Cabo Verde, continua a casar os alimentos com a arte e ainda se surpreende com a criatividade da gastronomia cabo-verdiana, em que a cachupa é rainha.

Filha de mãe portuguesa e pai cabo-verdiano, nasceu no Mindelo (ilha de São Vicente), onde casaria com Guilherme Chantre, o segundo director da Escola Industrial e Comercial do Mindelo, amigo de personalidades como os escritores Manuel Lopes, Jorge Barbosa e Baltazar Lopes, fundadores da Revista Claridade, a semente do movimento de emancipação cultural, social e política em Cabo Verde, anterior à independência.

O novo livro de gastronomia da autora pretende ser uma homenagem à mulher, nomeadamente às artistas cabo-verdianas, contando com ilustrações de pintoras e artesãs da terra da morabeza. “Eu acho que a mulher é pouco conhecida neste aspecto da arte, porque quando se fala em arte, só se fala nos grandes pintores”, disse. E recorda que, durante muitos anos, os grandes livros de cozinha eram escritos por homens ou, pelo menos, assinados por eles.

“Já li que as mulheres faziam os pratos. Depois, os homens vinham e eram eles os heróis que tinham feito as comidas. Todos os livros de cozinha, até uma determinada altura, foram de homens. Só quando apareceu O Livro de Pantagruel, da Bertha Rosa Limpo, [publicado originalmente em 1945, Editorial O Século], é que as mulheres começaram a apresentar livros de cozinha”, disse.